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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21939: Notas de leitura (1343): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte II: os "mentideros' de Bissau (Biafra, 5ª Rep) e ainda e sempre a retirada de Madina do Boé (Luís Graça)


Guiné > Região do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68) > 1967 > Madina do Boé: vista aérea, tirada de DO 27, c. 1967. As tão faladas colinas do Boé... "O resto era deserto", diz o fotógrafo..

Foto (e legenda): © Manuel Caldeira Coelho (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro

FERREIRA, José Pardete - O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971. Lisboa : Prefácio, D.L. 2004. 169 p., [12] p. il. : il. ; 24 cm. (História militar. Memórias de guerra). ISBN 972-8816-27-8.


1. Continuação da nota de leitura (*):

Este livro, "O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971", publicada sob a chancela editorial da Prefácio,  surge numa coleção , "História Militar" que tem quatro séries: "Batalhas e campanhas"; "Armas de Portugal"; "Memórias de guerra"; e "Estudos e documentos".

A coleção, que se reclama de um "conceito inovador". pretende conciliar a investigação historiográfica com a produção literária e memorialística, como é o caso deste livro do nosso saudoso camarada José Pardete Ferreira, que foi alf médico. no CAOP. Teixeira Pinto (1969) e no HM 241 (1969/71).

O alferes miliciano médico João Pekoff (heterónimo criado pelo José Pardete Ferreira, ou se não mesmo o seu "alter ego") chega a Teixeira Pinto, ao CAOP,  em meados de fevereiro de 1969 (pág. 30). Em Bissau, onde o seu batalhão de origem (, que apostamos ter sido o BCAÇ 2861,) desembarcou em 11/2/1969,  deve ter estado alguns escassos dias, em trânsito, antes de apanhar uma DO-27 que o levou até à capital do chão manjaco , de qualquer modo o tempo suficiente para começar a conhecer alguns dos pontos obrigatórios do roteiro dos cafés e restaurantes da tropa...

Alguns eram obrigatórios como o café Bento, mais conhecido por 5ª Rep, junto à fortaleza da Amura onde estava  instalado o  QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]. 

Era o grande "mentidero" de Bissau, onde os "apanhados do clima", vindos do mato, "desenfiados" ou em trânsito, partilhavam notícias e histórias com a malta do "ar condicionado"... Chegados a Bissau, os "periquitos" apanhavam logo ali os "primeiros cagaços", histórias tenebrosas de Madina do Boé, de Gandembel, de Guileje, etc., aquartelamentos no mato, felizmente, longe, muito longe de Bissau e do seu "bem-bom"...

Pardete Ferreira, de cultura francófona,  descreve assim a 5ª Rep, com inegável bom humor, para não dizer sarcasmo, comparanda-a com a situação de um aquartelamento do mato, Tite, na região de Quínara, perto de Bissau em linha recta, pelo que, quando era atacado ou flagelado, toda a gente ficava a saber e até a ver (pp. 54/55):

"(...)  Toda a Guiné Portuguesa tinha esta classificação de zona cem por cento de risco. Naquele território, era indiferente passar calmamente uma soirée [sic] na 5ª Rep ou no aquartelamento de Tite. 

"Na 5º Rep, a arma era  um copo de  uma beberagem qualquer, que ia aquecendo na mão e  que ia sendo municiada periodicamente. O único risco era constituído pelos perdigotos, por vezes sólidos estilhaços de mancarra, que o companheiro de conversa lançava, aproveitando o estar longe do interface do corpo a corpo.

"Em Tite, que se situa mesmo em frente da 5ª Rep, do outro lado do Geba [, na margem esquerda], apenas a alguns quilómetrps à vol d'oiseau [sic], a arma que se tinha na mão era das verdadeiras, daquelas que matam.

"Aquela cómoda sala do QG [Quartel General], no teatro operacional, dava lugar a um abrigo onde o combate mordia. No QG, pelo barulho podia adivinhar-se que Tite estava seguramente a embrulhar, podendo ver-se  as cores das balas tracejantes e ter uma ideia  da intensidade do assalto,pela quantidade e duração do fogo de artifício.

"Na 5ª Rep, assistindo-se ao espetáculo, beberricando um whisky ou despejando rapidamente uma mulher grande [, basuca ?], quase sem tempo para descascar a mancarra acompanhante, estava-se exactamente dentro  dos limites do mesmo Teatro Operacional da Guerra. Todo o pedaço daquela terra era território de guerra. O risco tinha uma graduação muito  relativa, embora fosse sempre uma probabilidade.

"Não se fizeram operações de black out [sic] como treino para a remotíssima hipótese de um ataque dos MiGs da Guiné-Conacry ? Houve quem  dissesse que afirmar isto era um verdadeiro disparate, na medida em que  os MiGs de Conacry eram de um modelo tão antigo que. se atacassem Bissau,  teriam que pedir o favor de ser reabastecidos em combustível no aeroporto de Bissalanca, a fim de poderem regressar à sua base de partida" (...).


2. Na 5ª Rep ou no "Biafra", a messe de oficiais dos Adidos,  o nosso médico terá ouvido logo, ao chegar,  os ecos,  ainda muito frescos,  da tragédia ocorrida no dia 6 desse mês de fevereiro de 1969, no rio Corubal, em Cheche, na sequência da retirada do quartel de Madina do Boé (e que ele vai reconstituir, de maneira superficial e algo fantasiosa, no capítulo XVII, pp. 117-121 de "O Paparratos").

A comoção que "o desastre do Cheche" provocou nas NT prolongou-se por todo esse 1º semestre de 1969, pelo menos, ao ponto de eu ouvir diferentes relatos dos trágicos acontecimentos quando cheguei a Contuboel, em princípios de junho,  para dar instrução aos futuros soldados guineenses da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, e depois, já em na segunda metade de julho de 1969, quando fomos colocados em Bambadinca, às ordens do BCAC 2852 (1968/70). 

A ideia com que os "periquitos", de olhos e ouvidos bem abertos,  ficavam, das conversas até às tantas da noite, regadas com cerveja ou uísque, era que Madina do Boé bem poderia ter sido o Dien Bien Phu português, o que, sabemo-lo hoje, era manifestamente exagerado. 

De qualquer o quartel fora evacuado com o (falso) argumento de que o sítio não tinha qualquer interesse estratégico para as NT. A "inteligência" spinolista não conseguir prever os efeitos perversos desta decisão: a retirada de Madina do Boé veio fragilizar o flanco sul e sudeste do "chão fula" e sobretudo será bem explorada pela propaganda e diplomacia de Amílcar Cabral.(**)

Pardete Ferreira não viveu, diretamente, esse desastre, não participou da Op Mabecos Bravios, mas ouviu também relatos, alguns apocalípticos ou fantasiosos, como eu,  mas ter-se-á documentado minimamente para escrever o "Paparratos". O mito e a realidade andam, muitas vezes,  de mãos dadas, o que numa obra de ficção é perfeitamente aceitável; como o próprio o diz, este não é um  trabalho historiográfico, é um "romance"... 

Podiam, entretanto,  apontar-se alguns exemplos de "factos" criados pelo narrador, que passamos a destacar em subtítulo.


(i) A 1221º Companhia de Paraquedistas foi  "a última a evacuar Madina do Boé" (pág. 117) [, referência à 121ª CCP / BCP 12, comandada pelo cap prqd Terras Marques, que no livro é o tenente paraquedista  Teixeira Martins]

Os paraquedistas não participaram na Op Mabecos Bravios, pelo que não fazia sentido a presença ali do [José Manuel] Terras Marques. Creio que o autor quis fazer uma homenagem a um militar que ele admirava, com quem acamaradou e inclusive fez amizade, no CAOP, e depois em Bissau, enquanto esteve, ano e meio, no HM 241.  E inclusive terá mantido essas relações de amizade na vida civil.  

Sabe-se que o Teixeira Martins [, ou melhor, o Terras Marques] fez duas comissões no TO da Guiné.  E pelo que corre nas redes socais, dos testemunhos de paraquedistas que foram por ele comandados, era um oficial com grande carisma, conhecido pelo "Tigre". E o próprio criador do Paparratos e do João Pekoff não o desmente, ao traçar o seu perfil;

(...) "O Pára Teixeira Martins tinha uma pontaria de exceção. Treinava sempre os seus homens com bala real".  (...). Ah!, e muito importante: dava sempre o exemplo!.

"Como capitão, tinha como guarda-costas o 118. (...) Na sua segunda comissão consecutiva, era um militar experiente, Muito calmo, parecendo dormir, saltava repentinamente e iniciava o tiro, sem que os mais novos tivessem dado por isso. Malditos periquitos. (...)  (pág. 120).

Ora este 118, o guarda-costas do capitão pára  seria nada mais nada menos do que o Cabo 80, que tem, no nosso blogue, alguns referências como sendo outra figura mítica do BCP 12. Foram-lhe atribuídas duas cruzes de guerra por feitos valorosos no CTIG.  Na vida civil, o seu nome completo era o  Jaime Manuel Duarte de Almeida, "Dois senhores da guerra", chamou-lhes o nosso Jorge Félix (***).

Há aqui um outro tenente, cuja identifidade não conseguimos decifrar. No livro "O Paparratos" e no capítulo respeitante a Madina do Boé, surge como o tenente pára Lemos Neves.. Quem seria este oficial  L...N... ? 

Escreve o autor:

(...) "Fez questão de ser o último homem a sair  dessa terra, que mais tarde vai ser a primeira Capital da República da Guiné-Bissau, dita Independente". (...) Nascido na Guiné (...), não vira ele  seus pais e sua irmã serem chacinados pelos turras ? Iniciando o serviço militar como miliciano, acabou por fazer em seguida a Academia Militar e logo após, em Tancos,  obteve o Brevet de Paraquedista ao qual juntou a Boina Verde, pouco tempo depois" (...).

Assim, de repente, só nos lembramos de um paraquedista guineense, pertencente ao BCP 12, o hoje cor ref  e empresário, Chauki Danif, nascido em Bafatá há mais e setenta anos,  e que eu conheci pessoalmente no lançamento do livro do cor prqd ref Moura Calheiros, "A Últma Missão", na Academia Militar, em 29 de novembro de 2010. Tanto quanto sei, ninguém da sua família   morreu, na Guiné, no início da guerra, por acções terroristas.


(ii) "Havia pelo mnos um Batalhão para evacuar" (pág. 118)

A unidade de quadrícula de Madina do Boé era a CCAÇ 1790, comandada pelo cap inf José Aparício. Béli já fora  retirada, em 15 de julho de 1968, em plena época das chuvas. Era um destacamento onde havia um pelotão da CCAÇ 1790.  

Como é largamente sabido, as vítimas do desastre do Cheche foram forças da CCAÇ 2790 e da CCAÇ 2405 (, esta pertencente ao BCAÇ 2852, sediado em Bambadinca),  que atrevessavam o rio, de jangada,  na última viagem. 


(iii) Havia "alguns abrigos reforçados" (...), "construídos à pressa" e que, segundo se dizia, eram "à prova de morteiro 120" (pág. 118)


Não nos é possível confirmar ou infirmar esta afirmação. Não sabemos se o BENG 447 teve tempo ou condições para construir alguns "bunkers" em Madina do Boé.  De resto, havia questões logísticas complexas a resolver (, transporte de materiais de contrução, etc.) e já em junho de 1968 parecia estar tomada a decisão de evacuar Madina do Boé, tal como Beli. 

Como escreveu Hélio Felgas, a companhia de Madina estava ali apenas a defender-se a si própria, quando era precisa noutros pontos do território.


(iv) "Aquela de meter um aquartelamento no vale aconchegado entre os únicos terrenos elevados [colinas] de todo o território guineense parecia não lembrar a minguém" (pág. 118)

Também não sabemos. ao certo, desde quando passou a haver tropa na antiga tabanca de Madina do Boé. O subsector de Madina do Boé (tal como o Buruntuma) foi criado ao tempo do BCAÇ 512, em 23 de maio de  1965.

Segundo o nosso colaborador permanente, José Martins, a primeira unidade a instalar-se em Madina do Boé, foi a CCAV 702 / BCAV 705. Permanceu lá de maio de 1965 a abril de 1966, quando terminou a sua comissão de serviço. A última, como se sabe, foi a CCAÇ 1790, que retira do local em 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).

É possível que o PAIGC tenha utilizado, do outro lado da fronteira, o novo e temível morteiro 120, que se estreou no TO da Guiné, em setembro de 1968, contra Gandembel (****).

Em suma, sobre a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche, o autor não traz (em 2004), nada de novo. E resume a narrativa do acidente a um ou dois parágrafos,  E comenta do seguinte modo: apesar do "bom planeamento" (pouco habitual mum país que gosta de "magníficos improvisos",os quais , de um modo geral, até "costumam correr bem"), tudo vai correr mal no fim, como sabemos (pág. 119).  

O tema vai ser depois debatido no nosso blogue quase até à exaustão, levando ao confronto de diferentes versões. 

(Continua)

__________



(**) Vd. poste de 10  de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21531: Casos: a verdade sobre... (14): as razões da retirada de Madina do Boé em 6 de fevereiro de 1969... Já oito meses antes, em 8 de junho de 1968, havia saído uma Directiva do Comando-Chefe da Guiné para a transferência da unidade ali estacionada, a CCAÇ 1790, comandada pelo cap inf José Aparício

(***) Vd. poste de 28 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5552: FAP (42): Dois senhores da guerra: O Cabo 80 e o Cap Pára Terras Marques (Jorge Félix)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15754: Fotos à procura de... uma legenda (71): Spínola e Costa Gomes no Cantanhez: fotos do livro de José Moura Calheiros, "A última missão" (1ª ed., Porto: Caminhos Romanos, 2010) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCV 8352, Caboxanque, 1972/74)


Foto nº 1 (p. 351)


Foto nº 2 (p. 336)



Fotp nº 3 (p. 337)


Três Fotos do livro de Jose Moura Calheiros [, 2º cmdt do BCP 12, Guiné, 1972/74, na altura major, hoje cor pára, reformado], "A Última Missão", 1ª ed. (Porto: Caminhos Romanos, 2010, 638 pp.). Digitalizadas por Rui Pedro Silva e reproduzidas aqui, com a devida vénia ao autor e editora.

Fotos: © José Moura Calheiros (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Rui Pedro Silva / LG]


1. Mensagem de ontem, do Rui Pedro Silva, membro da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971), ex-ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72), e ex- cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74): 


Olá, Luís: O prometido é devido. (*)

Junto envio três digitalizações de fotos do livro do cor pára ref Moura Calheiros. Mantive a legenda que acompanhava, no livro, cada uma das fotos.

Em duas das fotos ]nºs e 3] estão homens grandes da zona com o cap paraquedista Terras Marques [, cmdt da CCP 122 / BCP 12].

Numa das fotos de pé e de boina o cap Carvalho Bicho [, comandante da CCaç 4541/72, sediada em Caboxanque]. [Foto nº 3].

Estas reuniões eram frequentes e tanto aconteciam em Caboxanque como nas povoações da zona, umas mais orientadas para a acção psicossocial outras orientadas para obtenção de informações com algum valor operacional.

Na outra foto [n.º 1] veem-se os generais Costa Gomes e Spínola, o tenente-coronel Araújo e Sá, atrás do alferes que se encontra em primeiro plano e de costas o cap Carvalho Bicho e atrás do gen Spínola e entre este e o tenente coronel Araújo e Sá [, cdmt do BCP 12,] estou eu.

Um abraço, Rui




Capa do livro de José Moura Calheiros,  "A Última Missão" (Porto, Caminhos Romanos,
2ª edição, 2011). A 1ª edição de 2010.



2. Mail enviado ao Rui, a 13 do corrente:

Rui: Não tenho aqui o livro do Moura Calheiros, tenho-o no meu gabinete... Digitaliza-me essa foto,  onde tu apareces com o Costa Gomes e o Spínola, o José Moura Calheiros já me autorizou a reproduzir a parte do seu livro relativa à Guiné... Só tenho a 1ª edição (2010). Ele disse-me  que saiu,. em 2011, uma 2ª edição, revista e aumentada.

Fico feliz por teres dado "sinais de vida"!... Completa então a legenda desta e da outra foto (*)...

Um abraço fraterno... Luís

PS - Encontramo-nos em Monte Real, em 16 de abril ? Temos o XI Encontro Nacional da Tabanca Grande... A rapaziada está a ir-se abaixo das canetas, que a vida é uma picada cheia de minas e armadilhas...Como informático, preciso do teu bom conselho sobre este património riquíssimo, o blogue, que é de todos nós... Faço cópias de segurança, regularmente, mas o nosso servidor é o Blogger da Google, uma das mais poderosas e influentes megaempresas do mundo...

______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 13 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15743: Fotos à procura de... uma legenda (70): Spínola e Costa Gomes em Caboxanque, com o Cap Cav Carvalho Bicho, outros oficiais, um milícia e o chefe da tabanca (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, Cantanhez, região de Tombali, 1972/74)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6387: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (2): o ataque à coluna Bissau-Teixeira Pinto, em 16 de Junho de 1970 (II Parte)



Guiné > Região do Oio > s/d > CCP 121 / BCP 12 (1969/71) > Algures no Morés > O Hoss com a MG 42


Guiné > s/l > s/d > CCP 121 / BCP 12(1969/71) >  Um soldado paraquedista  "gravemente ferido com uma roquetada que rebentou por cima dele numa árvore", e que foi assistido pelo Sold Enf Pára Sílvio Abrantes, mais  conhecido pelo seu nome de guerra,  Hoss.

Fotos (e legendas): © Sílvio Abrantes (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das memórias do Sílvio Faguntes Abrantes,  membro da nossa Tabanca Grande, conhecido na Guiné como o  Hoss. Pertenceu à CCP 121 / BCP 12, comandada primeiro pelo então Cap Pára Terras Marques e depois pelo Cap Pára Mira Vaz. Foi soldado e enfermeiro, frazendo questão de andar com a MG 42.


2. Recordações do Hoss (Sold Pára Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) > 16 de Junho de 1970 > Ataque a uma coluna Bissau-Teixeira Pinto (2ª parte)

Resumo da I Parte:

Seguíamos de Bissau para Teixeira Pinto,  de coluna, quando fomos atacados cerca de 3 km. do Pelundo,à saída duma curva. O resultado cifrou-se em 6 mortos e 9 feridos, alguns com gravidade. (...)

 
As  companhias [de caçadores paraquedistas] 121 e 122,  quando comandadas pelo meu amigo ex-Capitão Terras Marques, hoje Coronel na reforma,  sempre foram companhias bem armadas, desde os RPG às MG havia de tudo, eram companhias fortemente armadas.

A talho  de foice,  em poucas palavras , um dia chegamos a Bolama, comandados pelo Terras Marques, fomos recebidos pelo comandante chefe, um Sr. Coronel que ficou pasmado com o armamento que nós trazíamos ao ponto de pedir para que fosse disparado um tiro de RPG7 em frente à porta de armas onde estávamos formados.

Depois de avisado do que aconteceria a seguir,  o nosso homem não se importou, quis foi ver o róquete disparado. Imaginem o que aconteceu a seguir.

Acabada a comissão do  ex-Capitão Terras Marques , veio outro comandante de companhia, que no discurso de apresentação a  certa altura diz:
- Na  Guiné não há guerra.

Ainda  hoje essas palavras bailam no meu cérebro e de muitos dos meus colegas. Não tardou muito que fossem retiradas à companhia armas pesadas, pois não havia guerra. Mas há uma coisa, eu quero que fique bem explícito, nós não culpamos o comandante de companhia pelo sucedido, que fique bem claro.

Junto envio duas fotos. Uma minha,  com a magnânima MG, algures no Morés, e outro dum colega gravemente ferido com uma roquetada que rebentou por cima dele numa árvore. Ficou com as pernas e as costas totalmente crivadas de estilhaços. Perdeu muito sangue ao ponto de eu não poder meter o soro no braço devido à falta de pressão nas  veias. Tive que fazer uma coisa que antes nunca tinha feito,  foi às escuras que o fiz,  meter  o soro numa veia das costas da mão, mas graças a Deus correu bem.

Horas amargas, mais amargas do que o fel.  O que será feito deste  bravo? Será vivo? Continua a sofrer? Não teria sido melhor eu tê-lo deixado morrer? Passados estes anos todos,  ainda penso muito nele. Gostava de o ver, mas não me lembro do seu nome.

Depois da resfrega e feitas as evacuações, e com  tudo a postos,  retomámos a viagem para Teixeira Pinto com uma paragem no Pelundo, onde estava a rapaziada toda à nossa espera pois já sabiam do sucedido. No meio da parada havia um fontanário com água a correr, dirigimos-nos para lá a fim de nos refrescar. Entretanto há uma voz que atrás de mim diz:

- Ó Fagundes,  o que é que tens na cabeça?

Era um colega de escola, furriel do exército. Passo a mão na cabeça e vem sangue  seco. Foi o tal zumbido que ouvi quando estava em cima da viatura e ver onde o IN estava emboscado. Mais um centímetro à direita e hoje o Hoss já não era lembrado.

Com tantos ferido ficámos sem medicamentos. Passados 2 ou 3 dias,  passa um avião T6 e apanho boleia para Bissau para ir buscar medicamentos. Quando aterramos  em Bissau,  diz o piloto:
- Gostaste da viagem?
- Claro que gostei ! - respondo eu com as pernas a tremer,  que mais pareciam bandeiras desfraldadas ao vento.

Vejam só,  o Hoss armado em cagarola e dias antes tinha andado aos tiros na guerra como se andasse a caçar coelhos numa coutado no Alentejo. É que o piloto daquela coisa voadora fez tudo para me enjoar,  mas não foi capaz.

Da pista sigo para a enfermaria para fazer a devida requisição dos medicamentos,  na passagem páro na secção fotográfica da Base Aérea para deixar os rolos de fotos que tínhamos tirado na emboscada. Pelo caminho reparo que,  quando o pessoal quando me via,  fugia. 

Chego à secção fotográfica e ao balcão estava um cabo que,  quando me viu,  fugiu, parecia que tinha visto um fantasma.  Do lado de dentro do balcão e à direita havia uma porta, espero um pouco,  aparece o sargento a espreitar. Eu pergunto:
-  Que é que se passa,  meu sargento? Já não me conhece, não sabe quem eu sou?

Então o bom do amigo,  muito excitado,  diz:
- Corre a voz que tu morreste.

Enigma resolvido. Imaginem. Dali sigo para a enfermaria,  quando entro fez-se silêncio. Ninguém disse nada, então eu quebrei o gelo e disse:
- Ainda não morri,  estou aqui bem vivo.

A tenente enfermeira Zulmira  e a sargento Maria do Céu,  emocionadas,  deram-me um forte abraço. Feita a encomenda,  sigo à procura do ex-Capitão Terras Marques  e ex-comandante da companhia. Fui encontrá-lo na messe dos oficiais. Quando me viu,  disse:
- Foram os meus homens que morreram.

Mais palavras para este homem? Creio que não são necessárias.

A Sargento Maria do Céu nunca mais a vi. A Tenente Zulmira encontrei-a há 23 anos,  no Dia da Unidade,  em S. Jacinto – Aveiro. Imaginem como foi o nosso reencontro.

Hoss


[ Fixação / revisão de texto: L.G.]
________

 

terça-feira, 20 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6195: Recordações do Hoss (Sold Pára Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/1971) (1): Quando a minha MG 42 ficou engatada no banco da viatura e sofremos uma tremenda emboscada a 3km do Pelundo

 1.  O Sílvio Faguntes Abrantes é, doravante, membro da nossa Tabanca Grande  (*). 

Nasceu a 23 de Janeiro de 1948, na freguesia de Aguada de Cima, concelho de Águeda. É, portanto, da terra do Paulo Santiago, ex-Alferes Miliciano, que comandou o Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/2). 

Além disso, foi colega de escola do Paulo. Do mesmo concelho é outro paraquedista, o nosso camarada Victor Tavares, embora de doutra freguesia, Recardães, e mais novo (1972/74). (Sei, pelo Paulo, que infelizmente não está em boas condições de saúde, não estando a acompanhar o nosso blogue: Força, Victor!, a má onda vai passar!).

O Hoss pertenceu à CCP 121 / BCP 12, comandada primeiro pelo então Cap Pára Terras Marques e depois pelo Cap Pára Mira Vaz. Ele próprio nos conta, era soldado, enfermeiro, mas "um colega trazia a bolsa e eu uma MG 42, nada mau,  dadas as circunstâncias". É também amigo do nosso camarada Tino (Contantino Neves).

Combinei com ele abrir uma série para as histórias que ele nos vai contar. Começamos hoje com a 1ª parte da emboscada que sofreu, em Junho de 1970, quando os páras se deslocavam, por estrada, de Bissau para Teixeira Pinto. O resultado foi trágico: 6 mortos e 9 feridos, entre graves e ligeiros.


Ontem escrevi ao filho Leonel: 

O pai já está formalmente apresentado à nossa Tabanca Grande. Queria agora saber se ele está disposto a escrever pelo menos uma meia dúzia de histórias... Já temos o relato da emboscada no Pelundo, que deve dar para dois ou três postes... Vou publicar a primeira parte... Mas gostava de abrir rma série para ele... Sugestões de título, por exemplo: Histórias do Hoss...  Ou: Recordações de um soldado paraquedista (Sílvio Abrantes, o Hoss)... Ou outro título sugerido pelo pai... Um Alfa Bravo do Luís Graça

O Sílvio respondeu-me, ele próprio, logo a seguir nestes termos:

Amigo Luís Graça, espero que continue de boa saúde. É pena estarmos longe porque convidava-o para ajudar a comer um leitão cá da Bairrada, assado por mim. O último foi no passado sábado, houve festa cá na terra, mas fica prometido que um dia nos havemos de encontrar a saborear uma sardinha amarela assada por mim.

Quanto aos e-mails, sobre a emboscada vou publicar no mínimo três. Quanto ao título deixo à vontade do meu amigo. Não vou perder mais tempo,  são 19h30, vou-me deitar que vou trabalhar da meia noite às oito do manhã.

Um abraço, Hoss.

Sei, através do Paulo, que o Sílvio (ou Hoss, como ele gosta de se chamar) trabalha numa fábrica de cerâmica, e por vezes no turno da noite. O Paulo aproveitou para me dizer que o pára que aparece na  fotografia que publiquei ontem, não é o Hoss, mas um camarada dele... Eu já tinha dado conta do lapso... Vou corrigir.

Respondi-lhe, ao Hoss,  hoje de manhã:

Sílvio: Obrigado pelo teu gesto de amizade, camaradagem e hospitalidade... Haveremos de estar juntos,  com o Paulo e o Victor que são "senadores" do blogue e já grandes amigos... Dia 26 de Junho vamo-nos encontrar em Monte Real, é o nosso V Encontro Nacional... Não queres aparecer ? 

Não te esqueças que na Tabanca Grande tratamo-nos todos por tu, como camaradas que somos, independentemente do que fomos na guerra ou somos hoje, na vida civil... Fica bem. Saúde e longa vida. Luís Graça 



Guiné > Algures > CCP 121 >  BCP 12 > 1970 (?) > Um camarada açoriano do Hoss, num momento de pausa na guerra e com sinais de grande sofrimento estampado no rosto. A seu lado, no chão, uma MG 42, a uma poderosa armas nas mãos dos páras...

Foto: © Sílvio Abrantes (2010). Todos os direitos reservado
s. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




2. Recordações do Hoss (Sold Pára Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) > 16 de Junho de 1970 > Ataque a uma coluna Bissau-Teixeira Pinto (1ª parte)



Seguia-mos de Bissau para Teixeira Pinto, de coluna, quando fomos atacados cerca de  3 km. do Pelundo,à saída duma curva. O resultado  cifrou-se em 6 mortos e  9 feridos,  alguns com gravidade.

Nos Paraquedistas,  no tempo do então Capitão,  hoje Coronel na reforma, o meu grande amigo   Terras  Marques [, foto à direita, cortesia do Portal do Exército Português,],  teve a ideia de aplicar às MG  um punho em madeira no fuste à medida do braçodo apontador.

Quando a emboscada rebentou e na confusão de saltar  da viatura,  a minha MG  ficou engatada com o  punho no banco. 

Saltar da viatura  sem a arma estava fora de questão, foi assim que me ensinaram os meus instrutores  em Tancos, ao contrário de um  oficial (que não vou dizer o nome porque seria uma vergonha ainda hoje passados tantos anos), que saltou da viatura e deixou a G3 lá dentro e  em pleno combate  pede ao soldado Folhas que lhe desse a dele,  ao que este rejeitou e com toda a razão. O que aconteceu a seguir é que não é digno de um homem. O vocabulário português é muito rico  e eu não encontro um adjectivo para classificar este oficial,que fez a vida negra ao Folhas durante o resto da comissão.

Eu fico em cima da viatura a ver onde o IN estava emboscado atrás dos baga-bagas e só acordei para a realidade quando ouço um zumbido a passar junto à minha cabeça. Salto da viatura e corro para  a zona de fogo,  fico de pé a meter a fita na arma que teimava em não dar fogo e foi o meu colega  Alberto quem me puxou para eu me abaixar e  me ajudou a meter a fita na arma, tal era a minha aflição.



Guiné >Zona Leste > Saltinho > Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72) > O soldado Mamadú Jau, "uma força da natureza" (segundo Paulo Santiago), apontador de metralhadora (empunhando aqui uma temível MG 42 - abreviatura do alemão Maschinengewehr 42 - que a HK 21 não conseguiu destronar, mesmo na guerra de África).

Foto: ©  Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


Eu fiquei cego deraiva. Fui eu que orientei o fogo para destruir os baga-bagas onde o IN estava instalado,  e que motivou a sua fuga, mas o mal aos  meus colegas estava feito. Não vou dizer que foi desta ou daquela maneira,  porque todos vós passaram decerto por situações iguais.As palavras por vezes dizem pouco. A  fotografia dum bravo açoriano que junto, fala por todos, diz tudo, não são necessárias mais palavras.

Fomos  atacados do lado esquerdo que era amplo,  só havia capim rasteiro e baga-bagas, do lado direito era mata com árvores. Nem todos correram para o lado esquerdo, devido à potência do fogo IN,  não o puderam fazer, ficando debaixo das árvores, então o IN atacou as árvores à roquetada,  oque provocou a maioria dos feridos pelos estilhaços.

Depois da resfrega e com os nervos a rebentar, outra tarefa  mais delicada, tinha de tratar dos feridos, o que exigia de mim e dos meus colegas enfermeiros um grande poder  de concentração e mais uma vez não podíamos falhar, tinhamos na mão a última réstia de esperança de vida daqueles bravos que tiveram a infeliz sorte de ficarem feridos.

Como um mal nunca vem só, não se conseguia ligação via rádio  com Bissau, Teixeira Pinto nem com o Pelundo a escassos 3 kms, mas eis que passa uma parelha da Fiats e o nosso operador de rádio manda um S.O.S. E de imediato os Fiats passam em voo rasante, entram em contacto com  Bissau,  passado pouco tempo estavam os helicópteros e as nossas queridas enfermeiras a fazer a devida evacuação. 

Por hoje fico por aqui, que relatar isto ainda dói muito.

(Continua)
        
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Nota de LG.:


domingo, 17 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5668: FAP (45): Em defesa do meu amigo Oitenta (Silvio Fagundes Abrantes, Hoss, ex-Sold Pára, BCP 12, 1970)




Guiné > Bissau > Brá> 1970 > "Os meus grandes amigos da Companhia de Caçadores Páraquedistas nº. 122: O Hoss e o Rodrigues. Em cima, vê-se o Hoss a aparar um murro no estômago, como mandavam as regras.

"Na segunda foto, o primeiro a começar da esquerda é o famoso Hoss, assim conhecido por todos incluindo os familiares, e julgo também o staf dos CTT, porque bastava escrever na carta ou no aerograma no endereço HOSS Pára-quedista, sem SPM nem nada, que a correspondência lhe ia chegar às mão. Era 1º Cabo Enfermeiro (julgo eu). O segundo era o Soldado Manuel Conceição Rodrigues, que era meu amigo desde há muitos anos, quando ele esteve a trabalhar na construção dos Estaleiros da Lisnave. Daí quando ía a Bissau, em vez de ficar no Depósito Geral de Adidos, ía comer, beber e pernoitar no quartel de Brá com estes meus grandes amigos. O terceiro da fotografia sou eu" (...) (*)

Fotos (e legendas): © Tino Neves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário, com data de 4, ao poste de 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

Caro amigo Luís Graça, em primeiro vou-me apresentar: Ex-soldado paraquedista, cumpri serviço no BCP 12. Chamo-me Sílvio Fagundes Abrantes, mais conhecido pelo Hoss.

Vou falar do que sei sobre o meu amigo Jaime Manuel Duarte de Almeida, 1º Cabo Paraquedista RD 85, mais conhecido pelo Cabo 80.

Sobre a sua vida de civíl antes da tropa pouco ou nada sei. Sei que teve uma infância muito dura e a certa altura foi para Lisboa onde se alistou na vida da noite. Quando algumas vezes lhe perguntei o que tinha feito antes da tropa, a resposta era sempre a mesma, ou se calava, ou não quero falar disso.

Era um bom jogador de cartas e exímio na vermelhinha. Não tinha escrúpulos em sacar a massa ao maior amigo, daí o pessoal não simpatizar muito com ele, como diz o Sr. Coronel Mira Vaz, meu comandante de companhia na altura.

Grande guerreiro, dotado de muita força, a MG 42 para ele era um brinquedo. Tínhamos dois inimigos comuns, os pretos e os ranhosos da PM [Polícia Militar], [que] se se bamboleavam por Bissau como se fossem donos e senhores do território, ainda hoje não posso com esses ranhosos.

O Jaime pertencia à CCP 122, veio para a 121 temporariamente pela mão do então Capitão Terras Marques que veio da 122 para a 121 e o Cabo 80 veio com ele. A seguir ao Cap Terras Marques, hoje Coronel na Ref, veio o Sr Mira Vaz.

A última vez que vi o meu amigo 80 foi em Águeda, encontrei-o por casualidade à beira da estrada nacional nº 1. Passámos ao resto da tarde juntos. Disse-me que estava à espera de ir para França, até hoje nunca mais o vi nem soube nada dele de concreto, o que sei é o mesmo que os meus amigos sabem.

O 80 não era nenhum arruaceiro e era digno das tropas Paraquedistas.Não como diz aí um senhor. Ele era um lutador, lutava pela Pátria e sabia o significado da palavra Pátria, ao contrário desse senhor que lhe chama arruaceiro, que não deve saber o significado da palavra Pátria e além disso é nojento tratar de arruaceiro um militar da estirpe do 80, sabendo que ele não está cá para se defender ou esse senhor era da PM a quem o 80 fez a vida negra e agora tenta vingar-se, isso é jogo sujo. Se ele cá estivesse de certo que não dizia uma baboseira dessas. Mais não digo.

Vou esclarecer um mal entendido. Eu era soldado enfermeiro, nunca fui promovido a cabo porque num dia fui duas vezes à missa e tramei-me. Eu era apontador de MG e um colega meu trazia a bolsa de enfermagem. Prometo voltar, Hoss.


2. Comentário, colocado no mesmo poste, pelo Paulo Santiago:

Coronel Mira Vaz: 

Após ler o seu post, liguei ao meu amigo e conterrâneo Hoss (Sílvio Abrantes), visto ter a convicção que ele tinha a especialidade de enfermeiro. Confirmou-me ter essa especialidade,apesar de nas saídas para operações levar a MG 42, sendo outro camarada a levar a bolsa de enfermagem. Falou-me numa emboscada no Pelundo (?) em que morreram 6 Páras, e após o combate ter exercido em vários camaradas as funções de enfermagem, o que acontecia, segundo ele, sempre que havia combate com feridos.

Abraço
P.Santiago
Alf Mil Pel Caç Nat 53

3. Comentário de L.G.:

Já tinha feito a sugestão ao Paulo:

"(...) Por que não trazes o Hoss até nós, tal como fizeste com o Victor Tavares ? Tu tens esse condão especial de saber levar a água ao teu/nosso moínho"...

E acrescentava: "O Victor, 1º Cabo da CCP 121 / BCP 12, foi o primeiro pára a 'abrir o livro', no nosso blogue... Publicámos, dele, um conjunto notável de depoimentos sobre a actividade operacional e humana da CCP 121, nomeadamente a actuação em Guidaje e depois em Gadamael em Maio/Junho de 1973. Também era um homem da MG 42. Ficámos amigos. Dá-lhe os meus melhores cumprimentos quando o vires"...

Julgo que a alcunha Hoss tenha sido atribuída ao Sílvio por analogia com a figura do Hoss Cartwrigh, da popular série televisiva norte-americana Bonanza...(Quem,da nossa geração, não era fã da família justiceira mas bonacheirona do Faroeste, o pai Ben, e os filhos Adam, Hoss e Little Joe ?... Comecei a vê-los desde os princípio da década de 60, se não me engano, na RTP)...

Gostava que o camarada Sílvio lesse as nossas regras de bom senso e bom gosto (por exemplo, não usamos o termo "preto", pela sua conotação racista...) e aceitasse fazer parte desta comunidade de amigos e camaradas da Guiné. Na nossa Tabanca Grande não cultivamos ódio nem raiva por ninguém, incluindo os antigos militares da PM e os homens (e mulheres) que nos combatíam (os guerrilheiros do PAIGC)...

No nosso blogue, simplesmente contamos histórias, partilhamos memórias e até afectos. Vejo que o Sílvio está na disposição de nos contar também histórias do seu tempo de militar da CCP 121 / BCP 12. Peço ao Paulo Santiago, seu amigo e vizinho, que o apadrinhe na sua entrada no nosso blogue. Se ele aceitar o nosso convite, que seja desde já bem vindo, alargando assim a representação dos camaradas do BCP 12.
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5552: FAP (42): Dois senhores da guerra: O Cabo 80 e o Cap Pára Terras Marques (Jorge Félix)





Guiné  > BCP 12 >  s/ data (c. 1968/´70) > 2 fotos do antigo Cap Pára  Terras Marques, hoje coronel reformado: a primeira, num convívio da CCP 122/BCP 12, em Bissalanca, BA 12; e outra, no mato.

Fotos (e legenda):  © Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso amigo e camarada  Jorge Felix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III (Bissalanca, BA 12, 1968/70), residente em Vila Nova de Gaia;

Assunto - O Oitenta (*)

Caro Luis,

Por se tratar de uma figura mitica dos Paraquedistas, o Oitenta,  envio-te este comentário que escrevi no P5546 (*), e a que darás mais relevo se assim o entenderes.

O Jaime era mais conhecido por Oitenta.

O Jaime foi chinado numa refrega no Bairro Alto. Quando chegaram os PM era tarde.

As lutas do Oitenta em Bissalanca eram, além de mais românticas, para matar o tempo, pois que passado o calor do sangue, o convivio recomeçava. Havia um fuzileiro de estimação chamado Tarzan, mas tudo era , como já disse,  muito romântico.

Transportei muitas vezes o Jaime  para as ZOPS, onde o vi sempre bem disposto, corajoso e solidário. Muitos roncos me ofereceu das investidas que fazia nos TASS (assaltos). Ficou tudo debaixo da minha cama em Bissalanca.

Muitas vezes disse ao Oitenta:
-Tens mais de pescoço que eu de perna !!  - e ríamos.

As histórias do Oitenta parecem todas um exagero mas uma tem que ser contada.

Porque se chamava Oitenta, o Jaime ? Dizem que na carreira de tiro,  na sua recruta, com duas metralhadoras, uma em cada mão, desenhou um oito com a esquerda e ao mesmo tempo um zero com a direita.

Outro Senhor da guerra por quem nutro grande amizade e é falado neste poste é o Terras Marques, companheiro de muitos voos e muita  água da Bolanha.

Junto uma foto sua algures no mato e outra num convivio no BCP 12 com a Companhia nº 122.
Jorge Félix

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)